terça-feira, 16 de outubro de 2012

Carta Mensal - Outubro de 2012

Tournay, 25 de setembro de 2012.

            A vocês todos EM BUSCA DA PAZ,
                        Paz!
            No próximo dia 8 de outubro, em Oslo, Noruega, começarão os diálogos de paz entre o governo colombiano e as guerrilhas das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC). Com a ajuda de países como Venezuela, Noruega e Cuba, uma nova etapa se abrirá, decisiva para o povo colombiano. Convido todos vocês a sustentar com nossas preces este processo importante que pode por fim acerca de 50 anos de conflito armado neste país.
            Já há várias décadas que se ensaiam processos de pacificação. Durante a presidência de Belisario Betancur (1982-1986), foi possível desmobilizar 10 % das FARC, as quais criaram um novo partido político, a União Patriótica (UP); mas  o assassinato de cerca de 3 mil de seus membros, estimulou ainda mais a guerra civil. Grupos guerrilheiros, como o Movimento 19 de Abril (M-19), Exército Popular Revolucionário (EPR), Quintín Lame e Corrente de Renovação Socialista, depuseram armas sob a presidência de César Gaviria (1990-1994). A constituição de 1991 alargou as possibilidades de participação e reforçou o estado de direito. O presidente Ernesto Samper (1994-1998) ensaiou um diálogo entre o Exército de Libertação Nacional (ELN) e representantes da sociedade civil colombiana, sem conseguir, porém, resultados concretos. O presidente Andrés Pastrana (1998-2002) propôs negociações em 1999, com as FARC, que colocaram como condição a desmilitarização de uma zona de  42.000 km2, superfície equivalente à Suíça! Esta nova etapa de negociações, promovida pelo atual presidente Juan Manoel Santos, encontra um novo contexto favorável, tais como um forte sustento internacional, um amadurecimento das partes envolvidas e sobretudo uma pauta mais definida de  negociações, composta de cinco pontos.
            O primeiro destes toca a questão de fundo da guerra civil, o problema agrário, num esforço de superar a forte disparidade fundiária (dados de 2003 indicam que apenas 0,4% da população possui 61,2% das terras) e fomentar o desenvolvimento rural. O segundo ponto atinge o plano político, tais como garantias para o exercício da oposição política e para a participação cidadã. O terceiro ponto diz respeito mesmo ao fim do conflito armado, deposição de armas e integração dos cerca de 9 mil combatentes das FARC na vida civil. O quarto ponto, nevrálgico, tratará da busca de soluções para o problema do narcotráfico, o qual financia, em grande parte, os paramilitares (grupos como Morte aos Sequestradores (MAS) e Autodefesas Unidas da Colômbia (AUC), atores não-negligenciáveis do conflito. O quinto e último ponto aborda o o direito à indenização às vítimas da violência, com o consequente esclarecimento da verdade: entre 1985 e 2005, calculam-se cerca de 250 mil mortos e mais de 3 milhões de pessoas obrigadas a abandonarem suas moradias.
            Para que isto se concretize, rezemos assim:
            Ó Deus de ternura, que enviaste teu filho Jesus para fazer a paz entre toda a criatura, derrama generoso teu Espírito sobre todo o povo colombiano e sobre todos os participantes das negociações que visam por fim ao conflito neste país. Que tenham abertura de espírito para dialogar, profundidade para abordar as questões e coragem necessária para encontrar soluções e firmar uma paz verdadeira e estável. Por Cristo, teu Filho e nosso Senhor!
            Com amizade, 
D. Irineu Rezende Guimarães
monge beneditino, prior da Abadia Nossa Senhora, Tournay, França

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