sexta-feira, 13 de setembro de 2013

Carta Mensal - Setembro de 2013


Tournay,  30 de agosto de 2013.

  A vocês todos EM BUSCA DA PAZ,
  Paz!
  A Assembleia das Nações Unidas instituiu, em 1982, o « Dia Mundial da Paz », fixando, em 2002, a data de 21 de setembro. Com esta iniciativa, a ONU oferece ao mundo uma oportunidade de parar e refletir, procurando caminhos para quebrar o ciclo infernal da violência e da guerra. Os combatentes do mundo inteiro são convidados a fazerem uma trégua e depor suas armas, ao menos por um dia!
O tema escolhido para 2013 é « Educação para a paz », com o objetivo de refletir sobre o papel educação na formação dos cidadãos do mundo. Segundo Ban Ki-moon, secretário-geral da ONU,  « não basta ensinar as crianças a ler, escrever e contar ; é preciso também lhes ensinar o respeito aos outros e ao mundo no qual vivemos, favorecendo assim o surgimento de sociedades mais justas, mais abertas e mais harmoniosas ». Na sua carta de 13 de junho p. p., apresentando a proposta do Dia Mundial da Paz 2013, Ban Ki-moon esclarece que este tipo de educação está no coração de sua iniciativa « Educação antes de tudo », na qual recomendava aos Estados para colocar a educaação no alto de suas prioridades. Ele convoca a todos – governos, partidos de um conflito, instituições religiosas, dirigentes locais, meios de comunicação, universidades ou grupos da sociedade civil – a aderir e a sustentar sua proposta. E acrescentou : « nós devemos colocar em ação programas de educação, proteger estudantes e professores em situações de conflito, reconstruir escolas destruidas pela guerra e dar às moças e rapazes uma educação de qualidade que lhes ensinará a resolver e prevenir conflitos ». Ki-moon conclui sua mensagem, convidando governos e cidadãos a não poupar esforços « para aprendermos juntos como promover uma cultura de paz universal ».
A educação para a paz constitui um grande desafio para todos. Em primeiro lugar para a sociedade, que nos ensina a violência da forma mais refinada possível: pelas canções que cantamos, pelas piadas que repetimos, pela forma pela qual punimos as crianças, pelo jogo que participamos ou assistimos, pelos meios de comunicação, pelos nomes da ruas, pelas somas investidas em armamentos enfim, de todas maneiras utilizadas para glorificar a violência. Em segundo lugar, a educação para a paz constitui um desafio para a escola em si, que, se não é mais palco de violência ou da sua racionalização, não é ainda agente de paz! É preciso pensar uma escola que nos ensine, além da fórmula de Bhaskara e da tabela periódica, a lidar com os conflitos sem violência, a canalizar nossa agressividade para ações construtivas, a desconstruir preconceitos e estereótipos; enfim uma  escola que propicie vivências de paz a toda comunidade educativa e que coloque a não-violência como eixo de suas ações pedagógicas. Finalmente, a educação para a paz constitui um desafio para cada habitante do planeta: as grandes violências são legitimadas pelas pequenas violências nossas do cotidiano! Da mesma forma, os grandes gestos de paz são ancorados nas ações domésticas que fazemos pela paz!
Para que a celebração do Dia Mundial da Paz de 2013 seja um acontecimento transformador, para países e cidadãos, rezemos assim:
Ó Deus, educador da paz, que guias teus filhos e filhas, conduzindo-os das veredas da violência às sendas da paz, dá-nos a graça de bem celebrarmos o Dia Mundial da Paz deste ano: que aqueles que combatem, deponham as armas, ao menos por um dia; e que aqueles que não pegam em armas, deponham a violência de seus corações e unam esforços para que a educação para a paz seja oferecidas às crianças e aos jovens. E que todos os dias sejam dias de paz, para todos os habitantes da terra! Isto te pedimos por Aquele que é nossa paz (Ef 2,14), o Cristo, teu Filho e nosso Senhor!        
Com amizade,
Dom Irineu Rezende Guimarães
Monge beneditino da Abadia Nossa Senhora, Tournay, França

Carta Mensal - Agosto de 2013


Tournay, 31 de julho de 2013.

A vocês todos em busca da paz,
PAZ!
Um dos graves problemas de nosso tempo é este dos refugiados, que não encontrando mais segurança no lugar em que vivem, são obrigados a deixarem casa, trabalho e pátria para procurarem um lugar onde seja possível viver.
Segundo relatório divulgado pelo Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados, em 20 de junho de 2013, Dia Mundial do Refugiado, o número de refugiados cresceu, atingindo a cifra de 45 milhões de vítimas, sendo 15,4 milhões de refugiados, 937 mil solicitando asilo e 28,8 milhões de pessoa obrigadas a mudar de domicilio em seu próprio pais, o que corresponde a um novo refugiado a cada quatro segundos. Este número, restrito ao ano de 2012 (não incluindo, portanto, os refugiados sírios de 2013!), é o maior registrado desde 1994, ano do genocídio em Ruanda e de grave crise nos Balcans, provocada pela dissolução da Iugoslávia.
Este aumento está relacionado, sobretudo, com a guerra civil na Síria, que, desde março de 2011, causou a morte de 93 mil pessoas e produziu 3,5 milhões de sírios refugiados no exterior e mais de 6 milhões deslocados internamente. As crises no Mali e na República Democrática do Congo também influenciaram, assim como a instabilidade politica em países como Afeganistão, Iraque, Somália e Sudão. Mais da metade dos refugiados recenseados provem de países em guerra. Cerca de 46% dos refugiados são menores de 18 anos, sendo que 21.300, não-acompanhados ou separados de seus pais, solicitaram asilo.
O Afeganistão, como nos últimos 32 anos, continua no topo da lista dos países que geram refugiados (2.865.600 !): em cada quatro refugiados, um é afegão ; sendo que 95% destes moram no Paquistão ou no Irã. Seguem Somália (1.136.100), Iraque (746.700) e Síria (471.400). Entre os países que abrigam refugiados, destacaram-se, em 2012, Paquistão (1,6 milhões), Irã (868.200), Alemanha (589.700) e Quênia (564.900).
O drama dos refugiados constitui uma grave ameaça à paz mundial. Já em 1963, através da encíclica « Pacem in Terris », o Papa João XXIII denunciava os sistemas políticos que « restringem em demasiado os limites de uma justa liberdade que permita aos cidadãos respirar um clima humano » (n° 104). Ele proclamava também que « os refugiados políticos são pessoas e que se lhes devem reconhecer os direitos de pessoa; tais direitos não desaparecem com o fato de terem eles perdido a cidadania do seu país » (n° 105). Ele reconhece como « um direito inerente à pessoa » a faculdade de se inserir « na comunidade política, onde espera ser-lhe mais fácil reconstruir um futuro para si e para a própria família », ao mesmo tempo em que aconselha os governos a acolher os refugiados e de lhes favorecer a integração na nova sociedade em que manifestem o propósito de inserir-se (n° 106).
Nesta intenção, rezemos assim:
Ó Pai, teu filho Jesus foi refugiado no Egito, para fugir da espada de Herodes. Da mesma forma que O protegeste, envia teus anjos para proteger os refugiados do nosso tempo. Sustenta todas as pessoas e instituições que trabalham em prol desta causa. Ilumina os governos do mundo para que sejam sensíveis ao drama destes nossos irmãos.Por Cristo, nosso Senhor! Amém!
Com amizade,
Dom Irineu Rezende Guimarães
Monge beneditino da Abadia Nossa Senhora, Tournay, França