terça-feira, 18 de março de 2014

Carta Mensal - Março de 2014


A paz e a participação das mulheres


A todos vocês que procuram a paz :
Paz !
A ONU proclamou o dia 8 de março como o « Dia Internacional das Mulheres » para suscitar uma tomada de ação à propósito do papel das mulheres na sociedade atual. Nesta ocasião eu vou convidá-los a refletir e rezar sobre a contribuição das mulheres para a paz no mundo. Se elas muitas vezes são vítimas da guerra e dos conflitos, elas também são construtoras importantes da reconciliação.
Se muitos processos e diálogos pela paz nao se efetivam é porque não se dá espaço suficiente para as mulheres. O médico palestino Izzedin Abuelaish, que perdeu três filhas num bombardeamente em Gaza, e fundou « Filhas pela vida », afirma : « Nós devemos aceitar a idéia de que as mulheres podem contribuir muito nas mudanças a serem realizadas. (...) Quando os valores femininos serão levados em consideração em todos os níveis da sociedade, os valores desta sociedade vão mudar e a vida será mais fácil ».
Para se assegurar a participação das mulheres nas negociações de paz o Conselho de Segurança da ONU, na sua sessão numero 4213, no dia 31 de outubro de 2000, aprovou  Resolução 1325. Este documento propõe que a ONU e seus Estados Membros possam se empenhar para dar às mulheres um lugar importante na prevenção dos conflitos, nas negociações de paz, assim como na reconstrução das sociedades destruídas pela guerra. Três palavras podem resumir esta resolução: prevenção, proteção e participação.
A Resolução insiste que as nações façam esforços para que as mulheres sejam melhor representadas em todos os níveis das tomadas de decisão – nacional, regional ou internacional – para prevenção, gestão e normatização dos conflitos. Que elas estejam mais presentes na qualidade de observadoras militares, de membros da policia civil, de especialistas dos direitos do homem e como membros de operações humanitárias. O documento propõe igualmente uma conduta que se preocupe com a imparcialidade entre os sexos por ocasião da negociação e da execução dos acordos de paz. Ele exige também que todas as partes envolvidas em um conflito armado respeitem plenamente as normas do direito internacional em relação às mulheres e às meninas, protegendo-as contra os atos de violência, em particular o estupro e outras formas de agressão sexual. Este documento propõe a introdução da perspectiva de gênero no processo de paz : temos que repensar a relação homem e mulher numa perspectiva de parceiros pela paz, o que exige uma nova compreensão da identidade masculina, menos guerreira e mais conciliadora.
A fim de que estas resoluções sejam colocadas em prática por todos os países do mundo, rezemos ao Senhor :
Ó Deus da paz, tu criaste o homem e a mulher à tua imagem e semelhança para que eles sejam um só. Abençoa todas as inciativas de colaboração entre homens e mulheres pela paz do mundo. Inspira todas as mulheres que se consagram à reconciliação e à resolução dos conflitos. Ilumine todos os chefes de nações para que eles possam dar às mulheres mais espaço nas negociações e nos processos de paz. E toda terra reconciliada, como uma grande familia, bendirá teu nome para todo sempre. Amém.
Com toda minha amizade,
Dom Irineu Rezende Guimarães
monge benditino da Abadia de Notre-Dame, Tournay, França
Tournay, 25 de fevereiro de 2014.

Carta Mensal - Janeiro de 2014

            Tournay, 30 de dezembro de 2013.
À todos vós que procurais a paz :
Paz !
O Papa Francisco escolheu como tema para este dia 1 de janeiro de 2014 a Jornada Mundial da Paz: « A fraternidade, fundamento e caminho para a paz ». A meditação desta mensagem poderá muito bem orientar a nossa prece pela paz neste primeiro dia do ano novo.
O ponto de partida desta reflexão do papa é a existência, em cada um de nós, de uma «sede incontornável de fraternidade, que leva à comunhão com os outros, na qual nós não encontramos inimigos ou concorrentes, mas irmãos que nos acolhem e abraçam.» No entanto esta vocação é negada por uma «globalização da indiferença, que nos faz aos poucos nos habituarmos com o sofrimento do outro, nos fechando em nós mesmos », num mundo em que falta a referencia a um Pai comum, fundamento último da fraternidade entre os homens (n° 1). Se Caim simboliza a recusa da responsabilidade pelos nossos irmãos (n° 2), Cristo, no seu abandono à morte pelo amor ao Pai, reconcilia em si mesmo todos os homens (n° 3). A paz é compreendida como um movimento de solidariedade para com todos, especialmente os mais pobres, amados « como a imagem viva de Deus o Pai, resgatado pelo sangue do Cristo e objeto de ação constante do Espírito Santo » (n° 4).  Assim a fraternidade se apresenta como um caminho para vencer a pobreza, seja « pela redescoberta e pela valorização das relações fraternas no seio das famílias e das comunidades », seja através de políticas eficazes « que assegurem à todos sua dignidade e seus direitos fundamentais », seja ainda através de « estilos de vida sóbrios e baseados sobre o essencial » (n° 5). A grave crise financeira e econômica contemporânea pode também ser uma oportunidade para encontrarmos um modelo de economia mais fraternal (n° 6). Da mesma maneira, a fraternidade se apresenta como uma alternativa para resolver os conflitos humanos, na medida em que redescobrirmos como um irmão aquele que hoje consideramos como um inimigo a ser eliminado: o que exige um esforço firme « em favor da não proliferação das armas e do desarmamento da parte de todos, começando pelo desarmamento nuclear e químico », assim como, com uma conversão dos corações (n° 7). Um autêntico espírito de fraternidade pode impedir múltiplas formas de corrupção, como o tráfico ilícito de dinheiro, de drogas, de pessoas e órgãos humanos, etc. (n° 8). Enfim, uma ética de fraternidade se estende também à natureza, na utilização racional dos recursos em benefício de todos, de maneira que todos sejam libertos da fome (n° 9). « O realismo necessário da política e da economia não pode se reduzir à uma técnica privada de ideal, que ignora a dimensão transcendental do homem » : é somente na abertura à Ele, que ama cada homem e cada mulher, que a política e a economia poderão ser um instrumento eficaz de desenvolvimento humano integral e de paz (n° 10).
Para que as palavras do Papa Francisco sejam acolhidas por todos, rezemos assim, usando as suas palavras:
 Ó Deus da Paz, « o Cristo veio ao mundo para nos trazer a graça divina, que dizer,  possibilidade de participar de sua vida. (…) Esta boa nova reclama de cada de nós um passo a mais, um exercício persistente de empatia, de escuta do sofrimento e da esperança do outro, incluindo o sofrimento daquele que está mais longe de mim, engajando-nos no caminho exigente do amor que sabe se doar e se dedicar gratuitamente pelo bem de todo irmão e toda irmã. Que Maria, Mãe de Jesus, nos ajude a compreender e a viver todos os dias a fraternidade que surge do coração do seu Filho, para trazer a paz à todo homem sobre nossa terra bem-amada ». Amém.
Com os votos de um ano novo abençoado!
Dom Irineu Rezende Guimarães
monge beneditino, Abadia Notre-Dame, Tournay, França