Tournay, 30 de dezembro de 2013.
À todos vós que procurais a paz :
Paz !
O Papa Francisco escolheu
como tema para este dia 1 de janeiro de 2014 a Jornada Mundial da Paz: « A
fraternidade, fundamento e caminho para a paz ». A meditação desta
mensagem poderá muito bem orientar a nossa prece pela paz neste primeiro dia do
ano novo.
O ponto de partida desta reflexão do papa é a existência,
em cada um de nós, de uma «sede incontornável de fraternidade, que leva à
comunhão com os outros, na qual nós não encontramos inimigos ou concorrentes,
mas irmãos que nos acolhem e abraçam.» No entanto esta vocação é negada por
uma «globalização da indiferença, que nos faz aos poucos nos habituarmos
com o sofrimento do outro, nos fechando em nós mesmos », num mundo em que
falta a referencia a um Pai comum, fundamento último da fraternidade entre os
homens (n° 1). Se Caim simboliza a recusa da responsabilidade pelos nossos
irmãos (n° 2), Cristo, no seu abandono à morte pelo amor ao Pai, reconcilia em si
mesmo todos os homens (n° 3). A paz é compreendida como um movimento de
solidariedade para com todos, especialmente os mais pobres, amados « como
a imagem viva de Deus o Pai, resgatado pelo sangue do Cristo e objeto de ação
constante do Espírito Santo » (n° 4).
Assim a fraternidade se apresenta como um caminho para vencer a pobreza,
seja « pela redescoberta e pela valorização das relações fraternas no seio
das famílias e das comunidades », seja através de políticas eficazes
« que assegurem à todos sua dignidade e seus direitos fundamentais »,
seja ainda através de « estilos de vida sóbrios e baseados sobre o
essencial » (n° 5). A grave crise financeira e econômica contemporânea
pode também ser uma oportunidade para encontrarmos um modelo de economia mais
fraternal (n° 6). Da mesma maneira, a fraternidade se apresenta como uma
alternativa para resolver os conflitos humanos, na medida em que redescobrirmos
como um irmão aquele que hoje consideramos como um inimigo a ser eliminado: o
que exige um esforço firme « em favor da não proliferação das armas e do
desarmamento da parte de todos, começando pelo desarmamento nuclear e químico »,
assim como, com uma conversão dos corações (n° 7). Um autêntico espírito de
fraternidade pode impedir múltiplas formas de corrupção, como o tráfico ilícito
de dinheiro, de drogas, de pessoas e órgãos humanos, etc. (n° 8). Enfim, uma
ética de fraternidade se estende também à natureza, na utilização racional dos
recursos em benefício de todos, de maneira que todos sejam libertos da fome (n°
9). « O realismo necessário da política e da economia não pode se reduzir
à uma técnica privada de ideal, que ignora a dimensão transcendental do
homem » : é somente na abertura à Ele, que ama cada homem e cada
mulher, que a política e a economia poderão ser um instrumento eficaz de
desenvolvimento humano integral e de paz (n° 10).
Para que as palavras do Papa Francisco sejam acolhidas
por todos, rezemos assim, usando as suas palavras:
Ó Deus da Paz, « o Cristo
veio ao mundo para nos trazer a graça divina, que dizer, possibilidade de participar de sua vida. (…)
Esta boa nova reclama de cada de nós um passo a mais, um exercício persistente
de empatia, de escuta do sofrimento e da esperança do outro, incluindo o sofrimento
daquele que está mais longe de mim, engajando-nos no caminho exigente do amor
que sabe se doar e se dedicar gratuitamente pelo bem de todo irmão e toda irmã.
Que Maria, Mãe de Jesus, nos ajude a compreender e a viver todos os dias a
fraternidade que surge do coração do seu Filho, para trazer a paz à todo homem
sobre nossa terra bem-amada ». Amém.
Com os votos de um ano novo abençoado!
Dom Irineu Rezende Guimarães
monge beneditino, Abadia Notre-Dame, Tournay, França
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